Usa-se aqui no relato o nome fictício de Tácita
(Deusa romana do silêncio e da virtude), para a cliente atendida. Tácita é uma
mulher 43 anos, professora do ensino médio em escola estadual (Formada em
Letras), casada há 13 anos, com uma filha de 10 anos, mora junto com eles o pai
de Tácita.
Ela foi criada por duas tias, irmãs do pai, e
sempre soube quem era a mãe, mas teve pouco contato. Tácita sempre se refere à
tia mais velha como mãinha, e à mais nova como tia. As duas faleceram. A mais
nova em 2002 e a “mãinha” em 2006.
Tácita em primeiro momento destaca uma queixa clara
“estou acima do peso e isso está me deixando nervosa e com autoestima baixa”.
Robine (2003) e Andrade (2007), afirma que em situação à clínica não devemos
desacreditar uma queixa inicial, por mais que haja indícios aparentes de
contradição ou racionalização extrema. Posicionei-me na direção não de
descrédito em relação à fala da cliente, mas de questioná-la em como era aquele
sentimento. Ao questionar Tácita, foram se abrindo caminhos para novos
diálogos. Questionei como ela lidava com essa angústia, Tácita então trouxe à
tona, que ela sentia falta de uma vida que já não tinha, era uma pessoa que
gostava de conhecer e conversar com pessoas. Estava engessada, aqui se
ressalve, a forma de comunicação de Tácita em nada tinha haver com o conteúdo.
Sua forma de falar era sempre altiva e extrovertida.
A observação acima envolve um conceito fundamental
da GT, o de awareness, ou seja, a consciência organísmica da
intencionalidade (POLSTER; POLSTER, 2001). Quando se apresenta a fuga ou
escapismo da noção do próprio self, encontra-se uma dissonância
conflitante que pode gerar uma angústia extrema e imediata, ou um processo de
deflexão constituído com base na cristalização de conteúdos e vivências
(ANTONY, 2009; ROBINE, 2003; YONTEF, 1998).
Ao longo dos questionamentos insurge a figura
marital, como impedimento para novos contatos e passeios tão valorizados por
ela. Neste momento questiono como se sente em seu casamento. Ela enumera
algumas adversidades, então problematizo como ela sente a felicidade. Surge
aqui um dado relevante, ela pergunta “O que você acha que devo fazer?”.
Questiono: o que você acha que deve fazer? Ela retorna: “Você acha que devo me
separar?”. Então coloco o que você acha que deve fazer, e ela mais uma vez:
“não sei e você o que acha mesmo?”. Aqui intervenho perguntando se ela sempre
espera dos outros a validação para a vida dela. Ela pensa um pouco, e responde
que sim. Questiono então como se sente em relação ao que ela quer. Ela não
consegue elaborar os conteúdos de forma pessoal, sempre se explicando através
de exemplos, muitas vezes sem relação com ela. Abro um parêntese aqui para
destacar que as intervenções foram feitas em acordo com o momento do processo
terapêutico, levando em consideração a função de cada um na relação dialógica
estabelecida, evitando um retraimento ou afastamento (ANDRADE, 2007; FERREIRA,
2009; ZINKER, 2001). Pois já alerta Gadamer sobre o ato de interpretar o outro:
“aqui encontramo-nos permanentemente sob a ameaça de nos apropriarmos do outro
na compreensão e, com isso, ignorar a sua alteridade”, (2004, p.396). Para
evitar a concretização de tal ameaça questiona-se, para poder assim ser ao
mesmo tempo disponível e possibilitando ao cliente a abertura ao que há de vir,
bem como o lugar de condutor no processo de auto-compreensão.
Tácita retoma o processo
dizendo que sempre tem uma dificuldade grande em negar qualquer pedido, mesmo
que seja descabido, pois gera uma ansiedade profunda a possibilidade de
desagradar o outro. O que deixa claro uma “deformidade” na sua fronteira
de contato, pois os contatos deixam de se pautar na relação de afetação mutua,
para se basear em uma hierarquização dos pólos.
Como relatado em todas as supervisões em que
abordei a psicoterapia com Tácita, destaquei um elemento recorrente: a dificuldade
para ela falar dela mesma, em termos subjetivos e de suas emoções, o que foi
também frequentemente emergido e exposto na relação clínica. Ela ressalta em
dado momento a dificuldade em também se colocar em relação ás suas
insatisfações com os outros, o medo de desagradar é muito forte. Tomo aqui o
conceito de figura e fundo, para poder evidenciar que em uma
visão da GT toda pessoa deve ser em processo dinâmico figura e fundo na
vida, pois cristalizar-se em uma posição estará perdendo ou abrindo mão de sua
condição ser sempre estando a viver em possibilidades (PERLS, 1980; ROBINE,
2003; GADAMER, 2004). Ao cristalizar-se como fundo, Tácita explica que mesmo
quando está em momento de extrema felicidade, é desencadeada a angústia pelo
receio do fim da felicidade. Ela apresenta freqüente comparação com o que já
foi e o que pode vir a ser, com o quem é hoje, sempre denotando mais sentido
crítico com o ser do hoje. Aqui vemos uma clara visão depreciativa do campo
perceptual. Percebe-se que os vetores perceptivos em Tácita, estão produzindo
uma resultante onde fica subjugada a carga do presente, este como base ou
estado único de possibilidade concreta de mudança.
Os atendimentos de Tácita sofreram frequentes
alterações de horário, seja por motivação minha, ou dela, tendo em vista uma
auto-crítica em relação ao meu trabalho e passividade da cliente com a
situação, a questionei se não a incomodava tais alterações de horário.
Prontamente ela disse que não, pois sabia que eu tinha motivos sérios, indaguei
novamente, independente do motivo justo ou não, se isso não a deixava chateada.
E então surgiram as palavras “É porque eu penso muitos nos outros e esqueço de
mim”. Vou aqui fazer uso pontual de uma lógica do Cronos, para melhor
aclarar o que vem a seguir. As palavras acima foram proferidas na penúltima
sessão, onde ela se deu conta, não de imediato, mas quando questionei se ela
achou que havia falado dela, ela disse que sim, e continuei “Você precisou
ouvir de alguém para confirmar o que você pensou sobre você?” Prontamente ela
disse que não, então problematizei: “A resposta que você tanto espera dos
outros, veio de quem?” Um pouco surpresa e com um leve sorriso de alegria,
disse ela: “De mim”.
Uma semana após, no atendimento seguinte, ela disse
haver pensado muito e que tinham sido dias de muita reflexão, e ela queria
contar um acontecimento. O problema seria que a mesma abriu mão algo de valor
material e sentimental, e por se curvar às falas dos outros, ela abriu mão de
resolver o problema também por isso Tácita perdeu duplamente, contudo, ao
contar o que havia acontecido ela se disse resoluta, isso causa angustia há 02
anos, “Porque sei o que quero fazer e o que é certo, mas não fiz, por causa dos
outros”. E significou em frase íntima a si mesma: “Estou aliviada e
feliz”.
No que foi retratado acima ocorreu à
aceitação da lembrança, nos dizeres de Gadamer aconteceu o desesquecimento, desesquecer, é aceitar e se apropriar, deixando de ser propriedade
cristalizada. Tácita ao aceitar o que emerge, a sua submissão ao outro
(papel cristalizado de fundo), deixa o caminho aberto para que
ocorra um processo que denomino figuração, o conteúdo se
movimenta dinamicamente para uma posição de figura, este processo
não é alheio ao ser, pelo contrário é ele da forma mais clara que pode
transparecer o ser em sua intenção presentificada.
Em Tácita essa ação se verte em torná-la figura de
si mesma,
FONTE:
FILHO,A.Q.O;
VASCONCELOS,B.N , Dialogicidade e processo psicoterapêutico em Gestalt Terapia:
Um relato de caso clínico. Revista IGT na Rede, v.11, nº 20, 2014. p. 40 – 47.
Disponível em http://www.igt.psc.br/ojs/viewarticle.php?id=484&layout=html
Muito bacana o caso! Me fez lembrar da minha antiga gestalt terapeuta
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